Internacionales
Os inimigos do governo Lula
Os inimigos do governo Lula já fazem perceptível sua presença dentro e fora do governo, instalados em posições importantes.
Queria falar hoje dos inimigos do governo Lula. São muitos, como se sabe, alguns abertos, outros nem tanto. Nelson Rodrigues falava dos “desconhecidos íntimos” que o abordavam na rua sem a menor cerimônia. Podemos falar, também, dos “inimigos íntimos”. É perceptível a sua presença no governo, estão lá infiltrados, instalados em posições importantes. Talvez “inimigos” seja uma palavra exagerada para alguns deles. Digamos “adversários”, no mínimo.
Começo pelos inimigos declarados: a extrema-direita, fascistóide, bolsonarista. Arrisco o seguinte comentário. A extrema-direita é inegavelmente forte, vide o resultado apertado da eleição presidencial e o sucesso bolsonarista nas eleições para vários Estados importantes e, também, para o Senado e a Câmara. Mas ela não derruba o governo. Atrapalha, tumultua, coloca vidas em risco, assassina, pratica o terrorismo, destrói patrimônio público. Só que não tem força, nem apoio interno ou internacional, para virar o jogo.
O principal efeito político da agitação da extrema-direita talvez seja enfraquecer Lula, pelo menos um pouco, na disputa com outras forças internas hostis. Refiro-me aos militares, ao centrão e, em especial, ao bloco formado pelo capital financeiro (o chamado “mercado”) e o seu puxadinho, a mídia tradicional. Não é fácil lutar contra tudo isso ao mesmo tempo. Deixo de lado hoje os inimigos ou adversários externos do governo, que têm menos peso do que os internos e que só podem influir decisivamente, num país da dimensão do Brasil, em aliança com eles.
Se o “mercado” e a mídia tradicional estão pessimistas e até desesperados, como se noticia, isto se deve provavelmente ao fato de que Lula compôs ou tenta compor com o centrão, por intermédio de Arthur Lira e outros líderes políticos, e com os militares, por meio do ministro da Defesa, José Múcio, deixando, entretanto, o “mercado” e adjacências basicamente ao relento.
Assim me parece. O Presidente fez e ainda fará concessões ao capital financeiro, mas não atendeu muito esses interesses na escalação da área econômica – ou não tanto quanto eles esperavam. Diferentemente do que aconteceu no primeiro mandato de Lula, período em que Antônio Palocci, de triste memória, foi ministro da Fazenda, a turma da bufunfa não tem hegemonia. Dispõe, é verdade, do comando do Banco Central, garantido pela lei de autonomia, mas queria mais, sobretudo no Ministério da Fazenda, o mais importante dos que resultaram da subdivisão do Ministério da Economia.
A estratégia de Lula, se é que a estou entendendo bem, me parece correta. O bloco capital financeiro-mídia tradicional, com suas ramificações no exterior, é o adversário potencialmente mais perigoso. Tem muito poder real, econômico e político. É o segmento dominante do empresariado. E conta com uma legião de porta-vozes dos seus interesses, economistas e jornalistas que são funcionários matriculados do status quo. Sempre com grande repercussão na mídia, eles se dedicam agora ao que ficou conhecido como terrorismo econômico ou fiscal. Um tipo de terrorismo que pode ser mais danoso do que o dos bolsonaristas. E espalham, também, a desinformação econômica.